quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mais um de Auguste Thomas

A casa dos Boniviere 

“Então, para que você caminhe nesta terra,
você e suas crianças temerão minha chama viva,
que morderá profundamente e saboreará sua carne.”

Maldição de Michael, anjo do Senhor
- Livro de Nod

Era cerca de onze e quinze da noite quando Jayme passava diante da casa dos Boniviere, ainda assustado com as histórias que se contavam sobre este lugar tão mortificado. Ninguém jamais ousara entrar naquela casa. Não neste século.
A casa dos Boniviere já foi lar dos mais requintados bailes do século XVIII, mas desde o desaparecimento de alguns jovens da região, deixou de ser visitada e perdeu todo seu glamour.
O medo batera as portas da sua alma levando seu corpo a um estremecer incontido, enquanto a fumaça que lhe saía pela boca sinalizava o frio que aumentava cada vez que ele dava um passo em direção aos portões. Ao fundo, a imagem de um grupo de jovens que apostavam debaixo da luz do único poste da rua, se Jayme seria corajoso o suficiente para adentrar aquele retiro de tantas sombras. A sua mão esquerda já se punha a diante do cadeado, que antes mesmo que ele pusesse a mão, veio ao chão, junto com a corrente que ele prendia.
À sua direita, uma larga rua que dava para o nada indicava uma possível rota de fuga caso algo acontecesse.
Era sufocante. O ar frio entrava em seus pulmões que pareciam duas pedras pesadas que tinha presas ao corpo. Insuportável. Mas, mais insuportável ainda seria se ele retrocedesse. O escárnio era, para Jayme, pior que qualquer um dos males que pudesse o esperar dentro do lar Boniviere.
O portão gemeu frio e metálico, como todo bom portão velho. Até a entrada da casa, havia uma pequena estrada de pedras largas, rachadas e desniveladas. O jovem rapaz andava por elas, sempre olhando para trás, para ver se ainda estavam lá, como disseram que ficariam, a observar enquanto entrava na casa.
Chegando a porta, percebeu que a mesma estava fechada. Iria voltar, mas quando se voltou para trás, viu que ainda estavam lá.
_Porque eles não vão embora? – pensou Jayme, que poderia dizer no dia seguinte que havia entrado na casa sem mesmo ter passado por aquela porta de madeira tão encanecida.
Ele colocou a mão na gelada maçaneta e a virou. Abrindo a porta, ouviu mais uma vez um rangido sofrido, e sentiu mais uma vez o seu corpo estremecer. Resolveu continuar caminhando. Afinal, já estava ali. Não havia porque temer. Eram apenas histórias. Nada daquilo poderia ser real. Ao continuar caminhando, ficou completamente deslumbrado com o hall de entrada. Era belíssimo. Cortinas pesadas e vultosas desciam desde o alto da cúpula até o chão, que era como um imenso tabuleiro de xadrez. O medo fora substituído pelo deslumbre do vislumbre do jovem rapaz.
Andando pelo meio de quadros, esculturas, objetos de valor. Observando os vitrais, que mesmo esburacados pela ação de vândalos, esboçava uma majestade de tempos que não se viviam mais naquele século tão conturbado.
A sua frente, uma escadaria, ao qual pretendia subir se uma pequena porta ao lado direito da escada, próximo a um pequeno suporte para velas, não lhe chamasse atenção. Aquela porta não estava tão empoeirada como as outras. Ela devia estar sendo usada, ou deixou de ser usada há muito menos tempo que as demais.
Sua curiosidade misturou-se ao medo, o fez com que fosse em direção àquela porta. Estava escuro, mas a luz da lua ainda permitia que Jayme visse a primeira dezena de escadas que havia atrás daquela porta. Havia em seu bolso, um antigo isqueiro que pertenceu ao seu avô, e havia sido passado para ele por seu pai, antes que morresse. Ainda havia querosene nele. O pequeno pedaço de vela que ainda havia no suporte seria o suficiente para que ele fosse e voltasse de lá debaixo.
Com a demora de Jayme, os jovens rapazes foram embora achando que provavelmente havia desmaiado de medo e, pela manhã, iria embora. O rapaz que propôs a idéia foi Henry. Henry e Jayme possuíam desavenças por causa do amor de Laura, uma jovem moça portuguesa.
Jayme, agora com a vela acessa, descia lentamente as escadas, passo a passo. Não havia mais beleza, nem luxo para se observar agora. As paredes medievais, frias, úmidas e cobertas de musgo trouxeram à tona novamente o medo do jovem rapaz. As escadas continuavam a chamá-lo para baixo. Ele seguia, até que chegou à sala de pedra.
O lugar não havia cheiro, não havia cor, não havia vida. Parecia outro mundo. Um mundo antigo, rústico e sombrio. Enquanto passava a vela perante a parede se deparou com um rosto demoníaco. O susto foi eminente. Ele saltou para trás, quase soltando a vela que segurava em sua mão. Seus olhos tremiam, e seu corpo, mesmo no frio agora suava. A dor que sentia no seu estômago era forte, causada pela súbita entrada de ar e pelo disparar de seu coração.

Ainda assustado, começou a iluminar aquilo. Era cinza, possuía a mesma cor que a parede. Jayme deixou sair de seus lábios um leve (e aliviado) sorriso. Achando-se um tremendo inerme por ter se apavorado por causa de uma espantosa obra de arte. Mas, como era real. Parecia vivo. Parecia que a qualquer momento seus olhos poderiam se abrir e seus braços se descolar da parede para um ataque sem chance de defesa.

“23 de junho de 1898 – Veneza

Pois bem, parece que fui fardado a esta terrível maldição. Dependendo da vida de outros para que a minha não-vida permaneça neste mundo. Que egocêntrico sou. Tão egoísta. A solidão se tornou minha mais bela companheira, e a tristeza da minha não-morte, a conselheira durante todo este tempo. Quem me dera ter tido a mesma companhia de Caim. Senhora, onde estás? Todos os meus me deixaram. Todos os meus foram levados de mim. Estou só. Amaldiçoado pelos anjos e só. Afastado do meu fôlego e só...”

Até que, por detrás de Jayme surgiu o acinzentado rosto demoníaco da obra da parede. Silenciosa, com seus olhos escuros, enegrecidos como noite ao qual estavam. Lentamente, aproximava-se dele, com sua boca entre aberta, iluminada apenas pela luz da vela. Até que o jovem moço sentiu uma leve e frígida brisa lhe passando pelo corpo. A chama da vela balançou e ele voltou para trás para apenas ver novamente a obra de arte ali, presa na parede. Como vira até então. Mas havia algo estranho. Os olhos pareciam mais limpos. Como se alguém os tivesse limpado ou como...

...se eles houvessem se aberto.

Jayme se apavorou e tentou sair, mas a porta se fechou antes que ele a alcançasse. Não sabia o que acontecia. Voltou para próximo da mesa e olhava para a parede vazia. Seu coração saltara. Seu corpo agora transpirava um medo palpável e o desespero lhe fez esmurrar a porta, enquanto ouvia algo se mexendo. Os socos que dava faziam com que suas mãos sangrassem. Até que parou. Tudo agora era silêncio.
Jayme encostou-se à porta e aos prantos caiu sentado no chão (Silêncio). Atento, Jayme observava a sua volta, procurando o paradeiro daquele demônio enquanto do alto da parede, silenciosamente, descia aquela criatura infernal. O noctívago assoprou. Agora tudo havia se tornado escuridão.

“Então, para que você caminhe nesta terra,
você e suas crianças se agarrarão a Escuridão.
Você só beberá sangue. Você só comerá cinzas.
Você sempre será como você estava na morte,
Nunca morrerá, se mantendo vivo.
Você entrará para sempre na Escuridão,
tudo que você tocar irá se tornar em nada,
até os últimos dias.”

Maldição de Uriel, o Terrível anjo do Senhor
– Livro de Nod

            Não sentia mais frio e nem dor. Não havia luz. Apenas sentia-se estranho. Como se tivesse sua boca preenchida com farpas e feno. Era difícil falar. Um cheiro estranho, ácido, estava no ambiente. Teria desmaiado? Não. Aquilo não foi um sonho. Pegou a vela que havia no chão e acendeu-a novamente, com o isqueiro de seu avô. Levantou-se pensando em correr em direção a parede, mas quando notou a si mesmo, diante da mesma já estava. Agora não era um demônio. As rugas haviam sido preenchidas e aquela criatura parecia mais jovem, mais limpa.
           
            Jayme ainda não entendia o que estava acontecendo. Era noite. Não sabia como tinha aquela informação, mas algo lhe dizia que era noite. Não sabia se era ainda a mesma que conduziu até a casa ou se muitas já haviam se passado.

            Foi abrir a porta do porão, que antes trancada, agora se desfazia ao puxar de sua mão. Subiu as escadas tão rapidamente que estranhou, logo estava na frente da escada e ausência de luz pela fresta das longas cortinas apenas corroborava o que já sabia. A lua estava posta no céu e não havia mais sons do dia na rua. No meio do pátio, sentiu um cheiro diferente. Adocicado, leve. Sentiu-se como envolvido num veludo terno. Sua boca seca encheu-se de um líquido espesso. Não era saliva. Ouvia passos ritmados misturados o outro som. Duas batidas densas, como se estivessem sido feitos por debaixo de alguma coisa. Estavam acelerados.
Um universo de sons havia se aberto para ele. Rapidamente, ouviu ou burburinho. Uma garrafa de vidro se estilhaçando. Um barulho de salto alto ao fundo. Bem distante. Quanto mais prestava atenção nos sons, mais variados e longínquos eles apareciam.

Toc, toc.

Tirou a atenção de Jayme que se pôs a porta tão velozmente quanto havia subido as escadas. Era Damian, um dos jovens rapazes que lhe havia feito a aposta.

_Jayme. É você quem está aí? – chamou o rapaz.
_Damian... – respondeu com voz fraca.
_Você está bem? Achávamos que você sairia hoje pela manhã, mas você não deu sinal de vida. Algumas pessoas já perguntaram por você. Inclusive o seu patrão.
_Damian...

Damian se assustou com a voz de Jayme e punha-se a ir embora quando ouviu o ranger da antiga porta e viu, à luz do luar, o rosto de Jayme. Seus olhos estavam irritados, enrubescidos. E sua pele, sempre corada, havia se tornado pálida, como a de um homem há muito ferido. Todos olhavam a cena de longe. Percebiam que Damian conversava com o jovem auxiliar do armazém. O simplório Jayme.
Até que este fora dominado por impulsos antes nunca vistos em si. Damian se apavorou e tentou correr, mas, num salto Jayme o pegou e o arrastou para dentro. Os jovens que ainda olhavam ao longe correram. E no fundo, os sons dos urros desesperados e afogados de Damian petrificaram a Henry. Que ouvia a morte do amigo, nas mãos do “covarde” Jayme Vincenzo, como eles mesmos o chamavam.

***
Ali dentro Jayme cravava seus dentes no pescoço de Damian, que com todas as suas forças gritava a ainda tentava se soltar do abraço feroz de Jayme, mas não conseguiria. Sentia a cada sugar, as suas forças indo embora. Sentia frio. Seus braços e pernas não respondiam aos seus comandos. Até que sua visão foi se escurecendo, lentamente, e com a morte veio o silêncio.
Jayme o soltou e engatinhou para longe. Olhando para a cena que havia se havia se formado naquele piso como tabuleiro de xadrez.
Chorava, e amaldiçoava os que, por sua inocência, o fizeram entrar ali. Amaldiçoou seu nascimento. E em seu coração, agora sombrio, brotara um anseio de vingança. Um direito já há muito merecido.


“Então, para que você caminhe nesta terra,
você e suas crianças temerão o amanhecer,
e os raios do sol irão queimá-lo como fogo onde quer que você se esconda.
Esconda-se agora para o nascer do Sol levar sua ira até você.”

Maldição de Raphael, arcanjo forte do Senhor
- Livro de Nod

E abraçou forte o corpo do jovem rapaz, sem vitae, no chão. E gritou o pesar de sua alma, já destruída pela maldição lançada sobre ele. Em memória, saiu aos fundos da casa. Soube exatamente como lá chegar, encontrando um imenso campo de plantas altas e mau cuidado. E ali enterrou o corpo do chovem rapaz na cova que cavou com as próprias mãos.

Entrou na casa novamente, e voltou ao porão. Lá ainda estava a criatura, presa na parede. Estava escuro, mas isso não o atrapalhava. Da mesa, recolheu todos os papéis que lá estavam e num dos quartos seguros da casa, lançou-se a leitura de todos. Mas em um havia escrito o que ele necessitava ler.

“15 de outubro de 1902 – Veneza.

Está será eternamente a minha sina. Se esconder da luz do Sol, que ferirá a mim e a minhas crianças. Permanecer longe do fogo, que me fará dano irrecuperável, vagar pela noite só, tendo a minha presença rejeitada por causa da minha fome e da minha sede. Um fardo pesado. Duro de ser carregado. Maldição cruel. Mas com ela me veio a força para me mover como um raio, para ser rígido como uma pedra e força suficiente para erguer qualquer objeto, mais pesado que seja. Veio-me a habilidade de dominar a mente das pessoas, e de fazer com que a minha presença seja temida e respeitada. Veio-me a habilidade de me comunicar com os animais e de até me tornar um deles. E de como muitos outros, fazer com minha presença não seja notada por olho nenhum. E a mim foram dados olhos e ouvidos aguçados, capazes de ver o que o homem comum não vê. Capaz de vasculhar a mente, o passado, o futuro breve e todas as lembranças.
Sou conhecido e dono das minhas crianças, e tudo o que eu sei elas sabem também. Não existe pensamento meu, que mesmo antes que eu diga, elas não saibam...”

Agora, entendia o que acontecera. Estava fardado a viver como um noctívago imortal até o fim dos tempos. Mas que lhe dera esse destino, também iria pagar.



“Filho de Adão, Filho de Eva, Vê,
a clemência do Pai é maior que você sempre soube, agora há um caminho aberto,
uma estrada de Clemência que você chamará de Golconda
e fala para suas crianças disto,
para que, seguindo esta estrada, possam morar na Luz uma vez mais.”

A bênção de Gabriel, o gentil anjo do Senhor
- Livro de Nod

            E viu amanhecer o dia, e se escondeu junto da criatura. Esperando que o véu da noite caísse. E nisso entendia a si mesmo. E praticava a sua força, e praticava sua velocidade. E enquanto isso, Jayme ouviu, fraco, e ao longe o seu nome ser dito.

            _Jayme...

            Não sabia de onde vinha. Procurava no lugar quem houvesse dito o seu nome e olhou para a parede da estranha criatura. E aproximou o seu rosto do daquele demônio imóvel. Agora sabia quem o havia chamado. Ele tocou o rosto da criatura e viu...

... memórias de um homem trabalhador e com muitos amigos lhe vieram à mente. Um homem bom, que passava diante aquela mesma casa, mas no esplendor de seus dias de uso “humano”. Ali, de uma janela, à noite, uma ruiva mulher se pôs a olhar para ele, que hipnotizado, não resistiu aos seus olhos cativantes e ao seu corpo desnudo e foi ao seu encontro. No calor de momentos libidinosos, foi abraçado pela jovem moça ruiva e teve a maldição compartilhada com ela.
            Logo sua visão fora lançada a uma sala vermelha, de um pequeno palacete francês, com um lustre acesso preso ao teto, enquanto as escadas circundavam aquele lugar. Chovia, e na janela do lado de fora havia um homem triste que olhava para dentro daquele palacete procurando a sua amada. Catherine? Era esse o nome dela?
            Aquele homem subiu até a janela do quarto e viu-a na cama, a sua jovem esposa aos prantos pela ausência do calor do seu corpo ali, ao seu lado. Logo, estava no porão e encostado na parede se fez ela, para viver a sua eterna prisão só, em esquecimento. Mas não fora o único, havia outros como ele naquele lugar.
Uma passagem secreta que levava ainda mais profundo naquele casarão escondia os Boniviere que ainda dormiam para um retorno triunfante futuro. Fez-se de guarda para a tumba daqueles noctívagos.
Ao se soltar do rosto daquela figura da parede, olhou para o lado e sabia como entrar no jazigo que guardava o segredo Boniviere. Mas já era noite e a sua vingança precisava ser executada.
Jayme saiu da casa, e ao andar na rua exibia um olhar tempestivo e vivo. A sede passara e se sentia seguro, mais ainda carregava em si o peso da morte do jovem Damian. Deixaria Henry por último, para este mesmo soubesse que era Jayme que estava fazendo tudo aquilo.

O primeiro: Olivier Leclerc. Filho de franceses. Nascido em Veneza. 19 anos. Morto no dia 2 de agosto de 1919. Causa Mortis: Estrangulamento. Seu pescoço foi apertado até que a última vértebra cervical fosse espremida e tornasse-se caco.

O segundo: Lion Ragazzo, filho de italianos. Nascido em Veneza. 19 anos. Morto no dia 3 de agosto de 1919. Causa Mortis: Afogamento. Alguém lhe lacerou a língua e depois costurou a boca. O estômago não recebeu bem o sangue e o fez regurgitar. Não podendo sair pela boca, o sangue e as suas náuseas se prenderam em seus pulmões e morreu agonizante como um porco sufocado na própria imundície.

O terceiro: Antonio Bonamorte, filho de italianos. Nascido em Veneza. 18 anos. Morto no dia 4 de agosto de 1919. Causa Mortis: Dilaceramento por ataque de animal. Seu corpo fora encontrado completamente destruído. Apenas o rosto fora deixado livre por razão desconhecida.

O último: Henry Cocci, filho de uma inglesa com um italiano. 21 anos. Em seu relatório clínico dizia...

***
Jayme seguiu Henry até a sua casa. E o viu em pleno desespero pela sua janela, agarrado a uma garrafa de uísque. Henry era filho do capitão da cidade logo, por se sentir ameaçado pediu, implorou ao seu pai que o protegesse lhe contando toda a história. Que havia feito um Jayme entrar na mansão amaldiçoada, e que agora ele vinha ao seu encontro. O pai de Henry não levou fé, disse que a morte de Olivier havia sido um acontecimento isolado, mas com a morte do Ragazzo e do Bonamorte, o pai de Henry se viu obrigado a fazer algo e delegou três homens para proteger o seu filho.
Jayme se sentiu na obrigação de fazer daquela última morte a sua obra prima. Ainda na noite, entrou pelas portas da frente na casa de Henry. Quando o primeiro guarda ergueu seu trabuco para atirar, o jovem noctívago já lhe havia tirado a arma e o arremessado em cima do outro vigia. Henry desesperado, contorcendo-se no seu medo, ouvia os gritos e sons de luta e de tiros que aconteciam na sala. Até que tudo se fez silêncio. A luz da vela acabou dando lugar à luz que vinha de fora do quarto. Ainda abraçado a garrafa de uísque chorando, viu a porta do quarto se abrir e o contorno do corpo do jovem noctívago foi o que viu, apenas.

***

... Causa Mortis: Carbonização. O fogo foi ateado em seu pé e apenas depois, espalhou-se para o corpo, como se podia deduzir pelos diferentes níveis de carbonização. No local, uma garrafa de uísque quebrada e um isqueiro antigo, com o nome Vincenzo gravado nele.
Jayme lembrou-se de Laura e mesmo em seu estado sombrio, ainda lembrava-se da paixão que movia por ela. Na noite do dia 7 de agosto, um dia depois da morte de Henry, Jayme foi procurá-la e para sua desgraça encontrou Laura chorando, diante da foto que havia tirado com Henry. Henry a havia pedido em casamento.
O céu chorou no lugar Jayme, que agora, não poderia chorar mais. Mas ainda era humano o suficiente para sentir a perda da amada, que agora chorava a morte de outro.
Chegando ao seu refúgio, em silêncio, entrou e desceu até a presença daquele noctívago que agora não estava mais na parede, mas estava de pé em sua frente. O noctívago da parede abriu a passagem ao abrigo dos Boniviere, onde Jayme entrou para dormir o sono eterno com a sua amada em seus braços, para um dia andar a luz novamente.

Golconda...

“Vê, a clemência do Pai é maior que você sempre soube, agora há um caminho aberto, uma estrada de Clemência que você chamará de Golconda... para que... possam morar na luz uma vez mais...”

Benção de Gabriel, o gentil anjo do Senhor...


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FIM
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